segunda-feira, 5 de março de 2018

Preocupante Itália

1. Os primeiros resultados e as projeções das eleições italianas para as duas câmaras do Parlamento (quadro acima, previsão para a Câmara dos Deputados) são piores do que o que já se receava. Os populistas do Movimento 5 Estrelas ganham largamente como partido mais votado, com mais de 30%, a coligação dos quatro partidos de direita supera os 35%, o Partido Democrático fica abaixo dos 20% e, dentro da coligação de direita, a Liga ultrapassa a Força Itália. Uma comparação com os resultados de há quatro anos mostra a enorme subida  do M5E e da Liga e a enorme queda do PD e da FI.
Em resumo, uma clara vitória do populismo e das direitas mais conservadoras e uma humilhante derrota do PD (centro esquerda), atualmente no Governo, que fica a 13pp do M5E e pouco acima da Liga! Como aqui se antecipara, a social-democracia europeia acentua a sua crise à escala europeia, perdendo o poder no único dos grandes Estados-membros da UE onde ainda liderava o Governo...

2. Em princípio, estes resultados não proporcionam uma maioria parlamentar a nenhuma força política, mas o sistema eleitoral misto, com cerca de um terço dos deputados e senadores a serem eleitos em círculos uninominais por maiora relativa, dá vantagem à coligação de direita, que não deve ficar muito longe da maiora absoluta, sendo naturalmente candidata a formar governo.
Todavia, se coligação de direta ficar aquém da maioria parlamentar e com o PD fora de qualquer coligação governativa depois desta severa punição eleitoral, não antevê fácil formar um governo maioritário à margem do M5E. Uma dificuldade inesperada provém do facto de dentro da coligação de direita, a Liga ficar surpreendentemente à frente da Força Itália, o que lhe dará força para reivindicar a liderança do governo. Impensável, ver Salvini à frente do Governo de Roma e a integrar o Conselho Europeu da UE!

3. Enfim, estes resultados não auguram nada de bom para a Itália e vão causar muitas dores de cabeça em Bruxelas e em muitas capitais nacionais da UE, incluindo em Lisboa, que perde um aliado na coligação dos países do sul.
Decididamente, estas eleições confirmam que, se a União se tornou um fator determinante nas eleições nacionais dos Estados-membros, em contrapartida as eleições nacionais nos grandes Estados-membros também podem afetar profundamente o quadro geral da União.