quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Protecionistas de todo o mundo, uni-vos (à volta de Trump) !


1. A concretizar-se, o anúncio do Presidente Trump de lançamento de uma tarifa de 35% sobre  a importação de automóveis nos Estados Unidos - que colocaria a país ao nível do Brasil - violaria flagrantemente as suas obrigações perante a OMC em relação à sua tarifa MFN para os automóveis (que é de apenas 2,5%) e ainda mais as suas obrigações no quadro do NAFTA com o Canadá e com o México (em que a tarifa é 0%, se preenchido o requisito mínimo de incorporação de 62,5% do valor do produto na área NAFTA).
Por isso, por maiores que fossem as vantagens imediatas para a indústria automóvel norte-americana (à custa dos consumidores, que são quem paga sempre as medidas protecionistas), essa medida faria incorrer Washington em enormes litígios comerciais de onde não poderia sair ileso. No mundo atual nem os Estados Unidos podem ganhar uma guerra comercial em violação flagrante das suas obrigações internacionais.

2. A anunciada política comercial protecionista de Trump - de que esta medida é apenas um exemplo - vai contra tudo o que os Estados Unidos defenderam e praticaram desde a II Guerra Mundial.
Com uma tarifa aduaneira média inferior a 4%, os Estados Unidos são uma das economias mais abertas do Mundo, junto com o Japão e a União Europeia, e foram uma das potências económicas liderantes da "onda longa" de liberalização do comércio externo depois da II Guerra Mundial, no quadro do GATT (1947) e depois da OMC (1994).
A deriva protecionista de Trump pode fazer rejubilar as forças nacionalistas, na extrema-direita e na extrema-esquerda, por esse mundo fora, incluindo na Europa, que veem no protecionismo comercial o elemento essencial contra a odiada globalização.  Mas para além de tripudiar sobre as obrigações externas de Washington, ela contraria as responsabilidades dos Estados Unidos na "globalização regulada" que nas últimas décadas contribuiu decisivamente para o crescimento económico global e para a redução da pobreza no mundo.
Decididamente, quem imaginaria a Casa Branca como ponta da lança da "internacional protecionista"?!